A miostatina é um gene que regula negativamente o crescimento muscular,
ou seja, ela limita o tamanho do músculo, tanto pela atenuação da
hipertrofia quanto da hiperplasia. Ainda não se sabe ao certo como a
miostatina atua, podendo ser pela indução da morte das células, inibição
da proliferação de células satélites e/ou diretamente no metabolismo
protéico."
Estudos em animais
Em 1997, MCPHERRON et al
fizeram um experimento interessante e obtiveram uma descoberta
surpreendente. Através de manipulação genética os pesquisadores
produziram ratos com deficiência no gene GDF-8 (miostatina) e
verificaram que os animais “deficientes” eram muito maiores que os
normais, com seus músculos chegando a ser de 2 a 3 vezes mais volumosos,
sem que houvesse um aumento correspondente na gordura!!!!
Em
animais de maior porte, como os bois, a inibição da miostatina não é tão
significativa quanto em ratos. Existem algumas raças que possuem
naturalmente mais massa muscular, como a Belgian Blue, a qual possui uma
mutação genética que a leva a ter de 20 a 25% mais massa muscular e uma
menor quantidade de gordura intramuscular e tecidos conectivos (dados
citados por MCPHERRON & LEE, 1997). Estes dados em animais podem
levar a interessantes trabalhos no campo da engenharia genética, no
sentido de produzir animais maiores e com carne de melhor qualidade em
uma grande variedade de espécies, tendo em vista que a miostatina
conserva suas propriedades em diversos componentes do reino animal.
Estudos em humanos
Desta
forma, tornou-se inevitável associar o ganho de massa muscular à
atividade da miostatina em humanos. Esta poderia ser uma explicação de
como o fator genético determina a composição corporal dos indivíduos em
níveis musculares, teorizando que pessoas com maiores atividades de
miostatina teriam dificuldade em ganhar massa muscular.
Um estudo
feito em Estocolmo, na Suécia, mediu a quantidade de miostatina em um
grupo de homens saudáveis e dois de HIV positivos (um com perda de peso
menor que 10% e o outro com redução ponderal maior que 10% nos últimos 6
meses). De acordo com os resultados há uma correlação negativa entre a
miostatina e quantidade de massa magra, tanto em indivíduos saudáveis
quanto HIV positivos, dando suporte à teoria de que a miostatina seja
inibidora do desenvolvimento muscular (GONZALEZ-CADAVID et al, 1998).
Outros estudos também verificaram maiores atividades da miostatina em
estados catabólicos induzidos por períodos prolongados de imobilização,
como estados de leito (ZACHWIEJA et al, 1999; REARDON et al, 2001). Mais
recentemente também foi verificada uma maior atividade de miostatina em
idosos, atribuindo um possível papel deste gene na sarcopenia (perda de
massa muscular) (MARCELL et al, 2001; SCHULTE et al, 2001).
Os
maiores níveis de miostatina em portadores do vírus HIV
(GONZALEZ-CADAVID et al, 1998), atrofias crônicas (ZACHWIEJA et al,
1999; REARDON et al, 2001) e idades avançadas (MARCELL et al, 2001;
SCHULTE et al, 2001) fazem surgir especulações acerca das aplicações
terapêuticas que a inibição da atuação da miostatina podem ter em
estados catabólicos induzidos por diversas patologias.
Em 2000,
IVEY et al publicaram um estudo, no qual procurou-se verificar os
efeitos da miostatina nos resultados obtidos com o treinamento de força.
O estudo envolveu um treinamento de musculação de 9 semanas, com uma
metodologia similar ao drop-set, tendo 4 grupos: homens jovens, homens
idosos, mulheres jovens e mulheres idosas. De acordo com os resultados
os diferentes fenótipos de miostatina não influenciaram na resposta
hipertrófica ao treinamento de força quando os resultados de todos os 4
grupos eram analisados em conjunto, porém houve uma tendência para
maiores ganhos de massa muscular em mulheres com um determinado
genótipo. Estas conclusões podem gerar dúvidas quanto à influencia da
miostatina na resposta normal ao treinamento de força.
A
descoberta deste gene trouxe reações em diversos segmentos: os
profissionais da saúde procuraram uma maneira de reverter o catabolismo
gerado por estados patológicos e pelo envelhecimento; os pecuaristas
visualizaram uma forma de aumentar seus ganhos, produzindo animais
maiores, e alguns segmentos do esporte procuraram uma maneira de obter
melhores resultados desportivos e estéticos.
Como era de se
esperar, muitas indústrias de suplementos alimentares se prontificaram a
lançar no mercado substâncias que prometem atenuar os efeitos da
miostatina e, desta forma, romper as barreiras genéticas do ganho de
massa muscular, porém creio que isto seja improvável de acontecer, pois
dificilmente um destes produtos produzirá a mágica de inibir a atuação
deste gene e se isso ocorrer, os resultados podem não ser muito
agradáveis, pois não podemos esquecer que todos os movimentos de nosso
corpo são controlados por músculos, incluindo os da fase e outros locais
que não costumamos lembrar quando pensamos em hipertrofia. Uma inibição
generalizada da miostatina poderia provocar desenvolvimento
incontrolado de todos eles, gerando um aspecto nada agradável.
Outro
ponto que gerará questionamentos é a distante, porém real,
possibilidade da miostatina passar a ser manipulada em humanos mesmo
antes do nascimento, originando uma linhagem de “super-seres”. Isto traz
à tona a questão ética da engenharia genética: até que ponto a ciência
pode interferir no desenvolvimento de um indivíduo?